terça-feira, 26 de maio de 2009

Lagrimas Ocultas...

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Florbela Espanca

Entre tantos poemas a que deu vida, que significado tinha a poesia para Florbela?

Através da poesia, Florbela Espanca cria um mundo só seu, através do qual se tenta proteger do mundo exterior, e das mudanças da vida, que encara com dificuldade.
È através dos versos que Florbela Espanca tenta "domar" os seus impulsos e as suas exigências. A poesia que escreve destina-se ao que há de mais profundo existe na poetisa, ela revê-se nos seus textos.
A poesia foi a constante companhia desta mulher, que se sabia amada, mas incompreendida .
Por outro lado, os seus versos eram a sua mais poderosa arma de sedução: tinham uma certa magia, e ela tinha consciência disso e usava-os para cortejar o seu amado.
De uma maneira geral, a poesia desta mulher é o retrato das suas vivências: a dor, os desamores, a angústia, as faltas e exageros, a procura e desencontro permanentes, os sonhos que não alcançou, a vida que não viveu. A poesia surge, assim, como celebração dos desencontros e desenganos que a vida lhe deu a conhecer.
Era pela poesia que procurava a tranquilidade, que não alcançava, ficando a escrita como libertação temporária.